ATA DA TERCEIRA SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA TERCEIRA LEGISLATURA, EM 21-3-2002.

 


Aos vinte e um dias do mês de março do ano dois mil e um, reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às quinze horas e vinte e dois minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada a homenagear os duzentos e cinqüenta anos do início da imigração açoriana em Porto Alegre, nos termos do Requerimento nº 010/02 (Processo nº 0091/02), de autoria do Vereador Marcelo Danéris. Compuseram a Mesa: o Vereador Carlos Alberto Garcia, 1º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, presidindo os trabalhos; a Senhora Margarete Moraes, Secretária Municipal de Cultura e representante da Prefeitura Municipal de Porto Alegre; o Senhor José Lages dos Santos, Cônsul de Portugal; o Senhor Guilherme Barbosa, Secretário Municipal de Obras e Viação; o Senhor Júlio César da Fonseca, Presidente da Casa de Portugal; o Senhor Eraci Rocha, Presidente do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore - IGTF - e representante da Secretaria Estadual do Trabalho, Cidadania e Assistência Social. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e registrou a presença do Senhor Aldo Rosito, representante da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, e da Senhora Santa Inéze Domingues da Rocha, representante do Conselho Estadual de Cultura. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Marcelo Danéris, em nome das Bancadas do PTB, PMDB e PSB, destacou a importância da imigração açoriana em Porto Alegre, comentando fatos históricos atinentes à chegada dos primeiros imigrantes oriundos do Arquipélago dos Açores há duzentos e cinqüenta anos, bem como as dificuldades por eles enfrentadas para se estabelecerem na área onde hoje está localizada a Cidade de Porto Alegre. Na ocasião, o Senhor Presidente registrou a presença do Senhor Ivo Benfato, Presidente do Conselho Municipal de Cultura e, após, foi dada continuidade às manifestações dos Senhores Vereadores. O Vereador Adeli Sell, em nome da Bancada do PT, prestou sua homenagem aos duzentos e cinqüenta anos da imigração açoriana em Porto Alegre, salientando a intensidade da influência açoriana verificada em Porto Alegre e destacando a contribuição dada por esses imigrantes para a formação social do Município, através da difusão de seus costumes e manifestações culturais. Na oportunidade, o Senhor Presidente registrou a presença da Senhora Maria Fraga Dornelles da Costa, Diretora de Assuntos Portugueses do Instituto Cultural Português e, após, foi dada continuidade às manifestações dos Senhores Vereadores. O Vereador João Antonio Dib, em nome das Bancadas do PPB e do PSDB, afirmou a importância da homenagem hoje prestada pela Câmara Municipal de Porto Alegre aos duzentos e cinqüenta anos de presença açoriana em Porto Alegre, procedendo à leitura de texto de autoria do Senhor Walter Spalding, referente à atuação desses imigrantes e seus descendentes para o desenvolvimento da Cidade. Após, o Senhor Presidente informou que a Senhora Margarete Moraes se ausentaria da presente Sessão, face a compromissos anteriormente assumidos e, a seguir, foi dada continuidade às manifestações dos Senhores Vereadores. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome da Bancada do PFL, cumprimentou o Vereador Marcelo Danéris pela iniciativa da presente solenidade, em homenagem aos duzentos e cinqüenta anos de presença açoriana na Cidade de Porto Alegre, salientando a importância da imigração açoriana para o estabelecimento de novas rotas migratórias, as quais contribuíram para o povoamento de Porto Alegre. O Vereador Raul Carrion externou sua satisfação em participar da homenagem hoje prestada pela Câmara Municipal de Porto Alegre ao transcurso dos duzentos e cinqüenta anos de imigração açoriana na Cidade, analisando dados históricos alusivos às causas e circunstâncias que levaram esses imigrantes a deixarem o Arquipélago dos Açores em busca de uma vida melhor em terras estrangeiras. A seguir, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos Senhores José Lages dos Santos e Eraci Rocha, que destacaram a importância da solenidade hoje promovida pela Câmara Municipal de Porto Alegre, em homenagem aos duzentos e cinqüenta anos do início da imigração açoriana em Porto Alegre. Na oportunidade, o Senhor Presidente informou que o Senhor Guilherme Barbosa se ausentaria da presente Sessão, face a compromissos anteriormente assumidos. Após, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense e, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às dezesseis horas e vinte e oito minutos, convidando a todos para a Sessão Solene a ser realizada a seguir. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Carlos Alberto Garcia e secretariados pelo Vereador Marcelo Danéris, como Secretário "ad hoc". Do que eu, Marcelo Danéris, Secretário "ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pela Senhora 1ª Secretária e pelo Senhor Presidente.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada a homenagear os 250 Anos do Início da Imigração Açoriana no Município de Porto Alegre.

Convidamos para compor a Mesa a Sr.ª Margarete Moraes, representando a Prefeitura Municipal de Porto Alegre; o Dr. José Lages dos Santos, Cônsul de Portugal; o Sr. Guilherme Barbosa, Secretário Municipal de Obras e Viação; o Sr. Júlio César da Fonseca, Presidente da Casa de Portugal; o Dr. Eraci Rocha, Presidente do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, representando a Secretaria do Estado do Trabalho, Cidadania e Assistência Social.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Executa-se o Hino Nacional.)

 

Registramos também a presença do Prof. Aldo Rosito, que neste ato representa a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, bem como da Sr.ª Santa Inéze Domingues da Rocha, representante do Conselho Estadual de Cultura.

O Ver. Marcelo Danéris, proponente desta Sessão Solene, está com a palavra e falará pelas Bancadas do PTB, PMDB e PSB.

 

O SR. MARCELO DANÉRIS: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Em primeiro lugar eu queria registrar que a iniciativa de fazer esta Sessão Solene é uma iniciativa colocada dentro da nossa Semana de Porto Alegre. Como fazer a 43ª Semana de Porto Alegre sem que durante esta Semana façamos a homenagem aos 250 anos do povoamento açoriano? Como falar da cidade de Porto Alegre, como homenageá-la, como reconhecê-la sem reconhecer o povoamento açoriano e os primeiros casais que formaram e ajudaram a fazer de Porto Alegre o que ela é hoje, não só para nós, população e cidadãos e cidadãs de Porto Alegre, mas para tantos outros que têm nesta Cidade uma referência positiva, uma referência bonita de uma cidade que muitas vezes é exemplo para o nosso mundo. E queremos que continue assim, pois esta Cidade, esta Porto Alegre que nos orgulha, esta Porto Alegre tem, na sua raiz, o povoamento açoriano.

As homenagens aos 250 anos de povoamento açoriano já ocorrem há muitos anos, mas acho que este ano tem algo especial. Desde o dia 16 de janeiro, quando na Assembléia Legislativa foi aprovada a data oficial de comemoração do povoamento açoriano, de lá para cá, muitas homenagens têm sido feitas. Inclusive, a Câmara participou homenageando aqui os Deputados do Arquipélago dos Açores, aqui nesta Câmara, também em janeiro, quando eles estiveram aqui em visita. A nossa intenção era justamente que, na Semana de Porto Alegre, pudéssemos mostrar o respeito, a admiração e o reconhecimento de Porto Alegre - eu diria dos gaúchos – para com este povo, para com estes povoadores, os nossos bons povoadores da cidade de Porto Alegre.

Quero abrir um parêntese aqui importante, porque, para nós, um País como o Brasil, um País que tem uma história de dificuldades econômicas, tem uma história de muitas lutas e de resistência, geralmente, quando se fala da história e da forma como se deu o povoamento no nosso País, muitas vezes, é de forma crítica, por não respeitar, quem sabe, a cultura que tinha no País, por não respeitar, quem sabe, os índios que aqui viviam. É interessante ressaltar que, do povoamento açoriano, nós falamos com orgulho, porque ele se dá sobre outra base, se dá sobre outros valores, se dá sobre outra lógica.

Aqui nesta Cidade, ao longo dos anos, nós temos feito uma série de homenagens justas, como o Monumento dos Açorianos, como o Ver. João Antonio Dib lembrou o Prefeito Loureiro que, aos 200 anos, também homenageou o povoamento açoriano. Mas eu acho que este ano ele tem um aspecto diferente, resgata com mais força. Resgata para nós, moradores de Porto Alegre, quem nasceu aqui e quem não nasceu, quem optou por Porto Alegre e quem optou por este Estado, a importância desse povoamento, a história e sua influência na cultura, na tradição, na música, que têm os açorianos. É óbvio que esta não é uma homenagem que passa só por Porto Alegre, mas já vem ocorrendo em outras cidades do Rio Grande do Sul.

No meu ponto de vista começamos a fazer justiça com a história que diz que os açorianos foram fundamentais, não só na formação da nossa Cidade, do nosso Estado e do nosso País, mas em manter esta Cidade, este Estado e este País como uma unidade para que pudéssemos ter a história que temos hoje, porque eles lutaram para defender essas fronteiras. Da descendência desses casais vieram muitos políticos, administradores, cientistas, humanistas, médicos, várias vertentes que ajudaram a construir o que temos hoje.

Das leituras que fiz sobre o povoamento açoriano, ressalto uma passagem escrita por Érico Veríssimo que retrata esse momento. Ele dizia que foram eles que lutaram contra as freqüentes incursões do sul e do oeste, avançando sobre o território que hoje é o Rio Grande do Sul. Era de origem açoriana a maioria daqueles a que se referiu Érico Veríssimo em O Tempo e o Vento, dizendo que “a fronteira marchava com eles, eles eram a fronteira”.

A história açoriana é preservada em Porto Alegre. Há muitos séculos homens e mulheres dos Açores foram para a África, para a Índia, para a América do Norte e América do Sul. Eles têm essa característica de se abrirem para o mundo. E Porto Alegre traz isso em seu povo, como por exemplo: o Fórum Social Mundial abre Porto Alegre para o mundo como os açorianos, que sempre estiveram abertos para o mundo, o que também é retratado por Vitorino Nemézio em suas palavras – nome bastante conhecido entre os estudiosos da história açoriana. Ele dizia: “Um dia vem para muitos em que o feitiço do mar já não cede. E hei-lo então a bordo do barco de imigrantes ou em demanda das metrópoles carregadas de sedução. Assim cumpre o açoriano o seu secular destino.” Esse marca bem essa característica açoriana que, neste momento histórico, na conjuntura em que vivemos, a preservamos quando fizemos de Porto Alegre referência mundial também, referência pelo seu povo, pela sua cultura, pela sua história, pela sua política, por alternativas de construção de um mundo melhor, e que só foi possível porque esta Cidade tem história; só foi possível porque esta Cidade construiu uma história diferenciada que hoje nos orgulhamos de dizer que é alternativa e que é exemplo para o mundo.

Esta, com certeza, é uma singela homenagem que marcam esses 250 anos na 43.ª Semana de Porto Alegre.

Eu conversava com o nosso Cônsul, que conheci hoje, uma pessoa muito simpática, e dizia a ele que eu, particularmente, não sou natural de Porto Alegre e também não tenho uma descendência direta açoriana ou portuguesa. Isso também representa e a boa representação de que o povo deste Estado, que o povo de Porto Alegre, que quem adotou esta Cidade, quem nasceu neste Estado, independente da sua descendência, independente da sua história e da sua naturalidade, reconhece, admira e quer resgatar a história. Procuro aqui, com a proposta desta Sessão fazer um pouco do que é parte deste gaúcho e que tenho certeza de que é um desejo de todos os gaúchos.

Quero encerrar dizendo que não é possível contar a história de Porto Alegre sem falar dos açorianos e não será possível contar a história deste mundo sem falar de Porto Alegre. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia): Registramos a presença do Sr. Ivo Benfato, Presidente do Conselho Municipal de Cultura.

O Ver. Adeli Sell está com a palavra e falará em nome do Partido dos Trabalhadores.

 

O SR. ADELI SELL: Meu caro Presidente desta Sessão proposta pelo Ver. Marcelo Danéris, autoridades já nominadas pelo protocolo, Vereadoras, Vereadores, cidadãs e cidadãos de Porto Alegre, coube-me a honra de falar, nesta Sessão Solene, em nome da Bancada do Partido dos Trabalhadores, proposta pelo Ver. Marcelo Danéris. Esse chão que nós pisamos e esse rio, lago maravilhoso chamado Guaíba recebeu, há 250 anos, os primeiros açorianos, como recebeu a mim e a tantos outros muitos anos depois. Quando aqui aportaram não havia quem estendesse os braços, talvez até, no início, houvesse conflitos entre os Charruas e outros índios que por aqui estavam, mas a história de Porto Alegre, como a história deste Estado e do resto da humanidade é a história da conquista, é a história da evolução. Duzentos e cinqüenta anos depois estamos aqui para lembrar a história e o passado dos açorianos que aqui aportaram e aqui deixaram as suas raízes. Assim como eles se abriram para o mundo e tomaram o caminho do mundo, também aqui construíram e deram os primeiros passos dessa cultura de solidariedade, de abertura e com os braços abertos foram acolhendo outras etnias. Hoje, no Rio Grande do Sul, nós temos esse caldeirão cultural, essa mescla de tantas e tantas etnias onde sem dúvida nenhuma a cultura açoriana, a cultura portuguesa está bem marcada, está presente em muitos dos traços desta Cidade universal que é Porto Alegre. E nós temos a convicção de que, ao lembrarmos dos 250 anos da colonização açoriana aqui em Porto Alegre, nós estamos também ajudando a marcar essa cultura e fazer com que ela permaneça por anos e anos, porque aqui nós queremos ser cada vez mais tocados por sua música, por suas tradições, pelo seu canto, pela sua dança, pelo seu jeito de ser e de fazer, e nós, nessa convivência harmoniosa, que é uma tradição desta terra, ao lado dos açorianos, nós estamos vendo outras culturas, outras etnias neste congraçamento que é um exemplo para o mundo. Aqui, nós começamos a construir a cultura da paz, a cultura da solidariedade, a cultura da benquerença e, sem dúvida nenhuma, se hoje estamos no mundo e dialogamos com o mundo, os açorianos que se voltaram para o novo mundo deixaram aqui a sua contribuição, e nós estamos fazendo o que é de nosso dever, ou seja, homenagear a colonização açoriana em Porto Alegre. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia): Registramos a presença da Dr.ª Maria Fraga Dornelles da Costa, Diretora de Assuntos Portugueses do Instituto Cultural Português.

O Ver. João Antonio Dib está com a palavra em nome das Bancadas do PPB e PSDB.

 

O SR. JOÃO ANTONIO DIB: Sr. Presidente, Sr.as Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Não pretendo de forma nenhuma fazer aqui um discurso, desejo apenas ler algumas anotações que fiz em Anais da Prefeitura, nos bons tempos em que a Prefeitura fazia Anais e contava a história da Cidade e do Rio Grande. Vou começar lembrando o avô ancestral para chegar no seu descendente na Prefeitura, mostrando o que os açorianos, ao longo dos tempos, fizeram por esta Cidade, que é a Cidade sorriso.

O primeiro comentário que leio é de Walter Spalding, quando Porto Alegre comemorou os seus 200 anos, em 1940. Dizia ele: (Lê.)

“Que representam os Anais da história da humanidade os dois séculos de Porto Alegre? Pouco mais, talvez, que a famosa gota d’água do oceano... Mas para a História da Nação, para a História do Estado, para a História do fogão porto-alegrense esses dois séculos são um símbolo - um símbolo virente de trabalho, de fé, de esperança e de amor. Quando a estas férteis e serenas terras Jerônimo de Ornellas se entregou - boníssimo velhote -, de alma e de corpo, Porto Alegre era apenas um acampamento de Charruas que viviam paradisiacamente, louvando a Deus ao seu modo, dentro da natureza incomparável, natureza vibrante que os cercava. E radicando-se à gleba, enamorado viveu nela e por ela Jerônimo de Ornellas arregimentou sua gente dentro do quadrilátero de terra - a sesmaria guaibense -, iniciando a grande vida do ‘seu’ arraial. Arraial que seria, pouco depois, capela e freguesia, mais tarde vila e capital, cidade finalmente. E passados dois séculos sobre o arraial do Jerônimo, metrópole cosmopolita do Rio Grande do Sul, terceira cidade do Brasil, e, do Brasil, a cidade sorriso. Sorrindo a tudo e a todos, seduz a quantos se lhes entregam nos braços velutíneos, sempre abertos para o amplexo fraterno, para o abraço do amor e a carícia incontida.

E Porto Alegre que foi nada hoje é tudo.

Que é de seus índios? Que é das casas de palha? Suas casas pequeninas de rótulas e beirais? De sua simplicidade provinciana? De seus pudores e receios? De suas virtudes e heroísmos? Tudo o tempo levou, mudou, transformou. ‘Com o tempo tudo vai e tudo muda.’

E o Porto de Viamão, Porto dos Casais pouco depois, mudou, engalanou-se: tornou-se Porto Alegre.

Deixou de lado plumas indígenas, simplicidade, humildade, pudores, receios, virtudes e heroísmos para ser heróica em tudo, avançando pelo futuro, sacando sobre o futuro, porque o futuro é seu. Mas, apesar disso, ama o passado. Porque sabe que o passado jamais voltará a ser presente; e comemora-o com radiante mocidade e entusiasmo sem par, pela glória infinita de ser sempre mais moça quanto mais velha, e, fraternalmente, esquecida do que vai pelo velho mundo de maldade e perversão, de ódio e de dor - para grandeza do Brasil e encanto desta nossa grande América.

Porto Alegre, quando ainda não tinha nome era habitada por índios Charruas. Mas um dia, enquanto Portugal e Espanha lutavam pela hegemonia no Prata, surgem os primeiros portugueses nas virgens terras guaibenses. E Jerônimo de Ornellas Menezes e Vasconcelos que nelas se estabeleceu, ocupa-as oficialmente iniciando seu povoamento.

E os anos correm... O porto do Viamão, o ‘sítio do Dornelas’ cresce, prospera... recebe pároco em 1747 e, em 1752 os primeiros casais açorianos, em número de 55. Nova vida circula em suas veias: enfeitam-na. É capital. (1773) Impera nela seu primeiro organizador - Brigadeiro José Marcelino de Figueiredo – que, anteriormente, em Portugal, se chamava Jorge Gomes de Sepúlveda.

O antigo povoado do ‘sítio do Dornelas’, o ‘Porto do Viamão’, já se não conhece... Já se não distingue o ‘Porto dos Casais’... Porto Alegre distende-se... Espalha, em suas ruas mais ou menos alinhadas, suas casas baixas, com muros e portões, tudo colonialismo, rumo ao futuro...

As ruas recebem designações curiosas e originais: Rua de Belas, da Passagem, da Praia, da Graça, do Arroio, da Cadela... E os Becos do Jaques, do Carneiro, do Poço, do Leite...

Foi pela época das denominações de ruas que a escravidão tomou incremento, estabelecendo-se, na então Estrada de Belas, o famoso ‘Mercado de Escravos’, o ‘cais’ em que ancoravam os batelões que traziam os escravos vindos por água, ‘cais’ que, mais tarde, depois de 1875, melhorado, servia para o desembarque de gado.

O ponto mais povoado, embora não fosse o melhor, e era a Cidade Baixa, a zona do Riacho e a Rua de Belas, pontos da vida inicial de Porto Alegre. Os arrabaldes, porém, eram mato... No Menino Deus, só a igrejinha esplendia. No centro, destacando-se, o palacete dos Barões de Gravataí, devorado, mais tarde pelo fogo... outras casas grandes, mais distantes, as dos Barões do Guaíba e do Jacuí.

O velho palácio, sem beleza alguma, o edifício da Assembléia, a ‘Bailante’, os alicerces da Casa da Câmara... No Rio Grande de São Pedro do Sul tudo estava em pé de guerra... O Uruguai em rebordosa... As obras, por isso, paralisadas... Tudo muito triste...

É que a revolução no Uruguai degenerou em ataques ao Brasil e o Brasil teve que intervir, prestando auxílio ao chefe colorado General D. Venâncio Flores em defesa do Brasil e da liberdade uruguaia. E de lá, das coxilhas do uruguaias, rumaram, pouco depois, para o Paraguai... Dias longínquos de dores e glórias... Mas foram as últimas guerras brasílicas, graças a Deus...

Mas a cidade também se divertia... E por que não? Na Praça da Matriz, apesar das guerras (1864-1870), as armações da grande e popularíssima Festa do Divino (Espírito Santo), com doces, leilões, olhares discretos e... indiscretos, fogos... Tudo muito em ordem. Contudo, as más línguas falavam tal como hoje. Igualzinho.

Praças de Porto Alegre... Mas quem falou em praça?... As praças eram desertos possuindo, quando muito, meia dúzia de árvores e um chafariz. Eram assim a Praça da Matriz, a da Caridade, a do Mercado, a da Alfândega, a da Harmonia ou a da Forca... Foi o Vereador-Presidente Martins de Lima que inventou as praças de verdade... E começaram as arborizações da Praça da Harmonia, a praça dos poetas e sonhadores.

Era semelhante a um capão...

‘Alto da Bronze’. Ah! O ‘Alto da Bronze’! Que falem os velhos...

E o Mercado inaugurado em 1842, catita, com seu ‘parque’ no interior... Era ali que se encontravam as ‘pretas minas’ comprando ‘as mercancias’ para o lar dos senhores que, também, às vezes, aí, mercadejavam o amor dessas escravas...

Depois da fracassada ‘Machambomba’, substituindo as ricas ‘cadeirinhas’ carregadas por possantes negros, surgiram, sendo inaugurados em julho de 1873 como parte dos festejos do centenário de Porto Alegre - Capital, os ‘bondinhos a burro’. Que asso enorme, na senda do progresso, foi essa iniciativa!

O Caminho Novo – depois de 1870, Rua Voluntários da Pátria -, foi o terror dos transeuntes, pedestres ou não... Otávio Rocha endireitou-o. Era a vergonha da Cidade. No último quartel do século passou a Praça a ser denominada ‘Praça dos Bombeiros’. Era uma doca... em tempo de cheia.

Há 122 anos era a ‘Ponte de Pedras’ ou da Cadeia, um quase deserto... Mas já se notava algum progresso: a ‘fábrica’ de gás e algumas boas casas na Rua da Olaria... enquanto a Rua dos Andradas, trecho entre o ‘Beco da Ópera’ (Rua Uruguai) e Praça da Alfândega, era calçada apresentando aspecto domingueiro de moça da roça... Era catita a velha Rua da Praia....

Veio uma época de condenação absoluta ao ‘Colonial’ que denominaram (os beirais) estilicídio. Surgiram, então, as platibandas. Muitas casas melhoraram. Outras ficaram aleijadas. O velho Palácio do Governo lucrou com a ‘operação plástica’.

Em 1880 a Praça D. Pedro II – ex-Praça da Matriz e hoje Marechal Deodoro – ainda não sabia o que era arborização. Só em 1885, quando nela plantaram a estátua do Conde de Porto Alegre é que se viram árvores pela primeira vez... Era, entretanto, era a praça da aristocracia. A ‘Bailante’ - a saudade da velhada -, que o Auditório Araújo Viana substituiu... O Theatro São Pedro, a Casa da Câmara que a República transformou em Tribunal do Júri... O chafariz que, aos pedaços, anda pela Praça Dom Sebastião...

No ano de 1804 foi instalada pelo Governador Paulo da Silva Gama, a Alfândega. E o local ficou denominado Praça da Alfândega, ainda hoje o povo a denomina assim. Não acreditou no Senador Florêncio. E, como nota característica - o chafariz. Esse chafariz era de bronze. Dizem os que o conheceram que ele era maravilhoso... Talvez, por isso o ‘Bicho Papão’ o comeu... Ninguém sabe onde está.

Rua dos Andradas, em frente à Praça da Alfândega. Hora de intenso movimento... Os ‘bondinhos a burro’ esperando os fregueses. O de nº 17 está parado, bem defronte ao Restaurante Carioca de propriedade de Sandri & Bertaso, que, segundo a velhada, muita ‘dor de cabeça’ deu às esposas e noivas. Por que seria...

Quando a República foi proclamada, Porto Alegre, vista do alto da Igreja das Dores, já era uma cidade de verdade. O Menino Deus está povoadíssimo... Os sobrados pululam pelas Ruas Riachuelo, Duque de Caxias e General Bento Martins...

Ao começar o século XX, um dos grandes aspectos da Cidade eram as Docas - à direita e à esquerda do Mercado. Uma foi ocupada pelo Palácio Municipal. A outra, Otávio Rocha, mandou aterrar a bem da higiene da Cidade. As casas baixas ao fundo foram destruídas por um incêndio em mil novecentos e vinte e poucos. O local está hoje ocupado pela Praça Parobé.

Novo Palácio para o Governo do Estado foi construído. As praças melhoraram. Construíram-se palacetes, ‘vilas’ e ‘bungalows’. ‘Ordem e Progresso’.

Depois da primeira urbanização de Marcelino de Figueiredo, de 1779 a 1780, a Cidade foi progredindo sem ter tido, contudo, grandes melhoramentos além da iluminação elétrica...

Fotos de 1919 a 1924 mostram esgotos e água canalizada na administração José Montaury. Era já uma Cidade bonita, mas foi-se enfeitando ainda mais a espera da iniciativa fantástica do saudoso edil engenheiro Otávio Rocha. Porto Alegre, então, começou a apresentar aspectos notáveis como as Avenidas Sepúlveda, do ‘Cais’ (Av. Visconde Cairú), melhoramentos na Rua dos Andradas, Av. Borges de Medeiros com seu importante Viaduto, o Auditório Araújo Viana... Mas Otávio Rocha faleceu. Contudo a faina prosseguiu com Alberto Bins para chegar ao apogeu com Loureiro da Silva, descendente de Jerônimo de Ornellas. Após violenta fúria arrasadora surgem, dos escombros da cidade velha, visões ‘babilônicas’ que, fazendo de Porto Alegre um mundo novo, a elevam à categoria das maiores e mais belas cidades do Brasil Novo.

E é assim, hoje, a Cidade Sorriso, maravilha de graça, olhando, insatisfeita e sedutora, o futuro que a espera... Um futuro grandioso, digno do Brasil Novo, do Brasil de amanhã. Porque Porto Alegre continuará sendo a mais bela expressão do Rio Grande, cidade-encanto, Cidade Brasil...”

Cidade que José Loureiro da Silva, que comemoramos o centenário de nascimento há dois dias, ajudou a construir. Saúde e paz! Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia): O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra em nome do PFL.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Em verdade, o Partido da Frente Liberal sente-se no dever de participar desta Sessão Solene em homenagem aos 250 anos de povoamento açoriano na Cidade e no Rio Grande do Sul, e o faz por nosso intermédio, na impossibilidade de fazê-lo na voz do seu Líder, Ver. Luiz Braz, que conosco compartilha desta homenagem que vimos a nos somar, singela, diga-se de passagem, que não tem a pretensão de acompanhar a erudição do pronunciamento do Ver. João Antonio Dib, mas que não quer deixar sem que haja o acréscimo da nossa voz a esta homenagem tão bem requerida pelo Ver. Marcelo Danéris e que foi acolhida por unanimidade na Casa.

Por isso, Sr. Presidente, ocupamos a tribuna, pois desconhecer a influência portuguesa na formação cultural do Rio Grande é desconhecer a nossa própria história. Sem dúvida nenhuma, nós sabemos que é um marco delimitador entre a Província de São Pedro diante dos açorianos e a Província de São Pedro pós-açorianos.

Não são poucas as famílias, a partir dos troncos iniciais, que se desenvolveram e geraram para a cultura gaúcha, para a economia do Estado, para a sociedade rio-grandense como um todo, valores dos mais expressivos e que seria até fastidioso nós citarmos nesta hora.

Ainda hoje esses marcos estão bem presentes, e, a todo o momento, nos defrontamos com verdadeiros emblemas da cultura lusitana instalados nos vários pontos da nossa Cidade de Porto Alegre. Não seria exagero dizer que Porto Alegre é uma cidade portuguesa, com certeza, que preparou um ambiente para que inúmeras outras correntes migratórias para cá ocorressem. Acabou que todos nós, ou quase todos nós, com raríssimas exceções, aqui aportamos, uns vindos dos Açores; o Ver. João Antonio Dib vindo de Vacaria, eu, do Quaraí e todos nós de alguns pontos deste Brasil, desta América e deste mundo.

Essa tem sido a vocação da Cidade de Porto Alegre, de acolher no seu seio homens e mulheres provenientes de vários pontos do mundo, que formam esta Cidade, que tem essas marcas indeléveis da colonização lusitana, da colonização portuguesa, mas que também tem essa característica de sempre ser aberta e hospitaleira para aqueles que aqui chegam. Foram os açorianos, sem dúvida, que iniciaram essa sendas, que iniciaram essa trilha e a tradição, que formaram essa cultura.

Nessas condições, Sr. Presidente, e alertado da conclusão do meu tempo, quero, em nome da Bancada do Partido da Frente Liberal, em nosso nome e no nome do Ver. Luiz Braz, me associar à iniciativa de louvar e de festejar os 250 anos do povoamento açoriano da nossa Porto Alegre, eis que a importância da ocupação açoriana, que preparou esse território para a vinda de outras correntes migratórias, como já falei, marca de forma muito forte a grande contribuição que os lusitanos, os portugueses e, mais especificamente, os açorianos deram para o surgimento, crescimento e desenvolvimento da nossa Cidade.

Àqueles que nos honram com as suas presenças nesta hora, especialmente os que compõem a Mesa Diretora, o nosso agradecimento por ter acolhido ao nosso chamamento, estando conosco nesta hora, e aos açorianos, de 250 anos passados, as nossas perenes homenagens. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia): O Ver. Raul Carrion está com a palavra e falará em nome do PC do B.

 

O SR. RAUL CARRION: Sr. Presidente e Srs. Vereadores (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Estimado Ver. Marcelo Danéris que, com a sua iniciativa, aprovada por unanimidade na Casa, nos oportuniza algumas reflexões sobre a saga dos açorianos. Como um dos meus sobrenome é Machado, fica claro a minha descendência portuguesa, além de outras - espanhola, alemã e francesa - dentro do cadinho de raças que caracteriza o nosso Estado.

Este ano, completamos 250 anos da chegada na então "Lagoa de Viamão", o nosso atual Guaíba, de sessenta casais açorianos que aqui chegaram com a missão de povoar a região dos Sete Povos das Missões, que deviam passar para o domínio de Portugal por conta do Tratado de Madri, em troca da Colônia de Sacramento. Vinham eles da Ilha de Santa Catarina, onde haviam chegado há algum tempo, chegados do longínquo Arquipélago de Açores, formado por nove ilhas vulcânicas, a Ilha Terceira, do Pico, Faial, Santa Maria, São Miguel, Corvo, São Jorge, Graciosa e Flores.

Falar do povoamento açoriano do Rio Grande do Sul e de Porto Alegre - antecedido pelo povoamento do Maranhão, muitos anos antes e do povoamento de Santa Catarina - é falar da saga de um povo de desbravadores, que enfrentou as maiores dificuldades e saiu adiante altaneiro.

Similar ao “êxodo rural” - que hoje expulsa milhares de trabalhadores rurais do campo brasileiro - esses laboriosos agricultores açorianos foram tangidos para o Brasil pela superpopulação "relativa" das Ilhas dos Açores, onde o morgadio monopolizava as poucas terras férteis, nas mãos dos poucos de sempre.

As suas dificuldades começavam na própria viagem em verdadeiros navios “tumbeiros”, onde muitos morriam depois de dois a três meses de deslocamento em navios superlotados, sem qualquer higiene, com alimentos escassos. Segundo documento descoberto pelo historiador Francisco Rio-Pardense de Macedo, o Governador da Ilha de Santa Catarina relatava à sua majestade a chegada de um navio em 1750, com dez adultos e dezesseis crianças mortas; outros morreram em seguida ao desembarque e cento e trinta foram hospitalizados em estado tão grave que logo foram dados os sacramentos a mais cem. A causa da mortandade era a superlotação: seiscentos e oitenta e seis passageiros, afora os cinqüenta tripulantes, em um navio que não poderia comportar 1/3 dessas pessoas. Aqui chegados, os sobreviventes aguardaram anos até terem as terras e as ferramentas prometidas, as duas vacas e a égua que S. Majestade lhes devia.

A guerra guaranítica causada pela disputa dos Sete Povos das Missões, os impediu de irem para a região prevista. Aqui, ficaram arranchados na Sesmaria de Jerônimo de Ornellas em situação precaríssima, sobrevivendo a duras custas. Aos poucos, foram-se espalhando, criaram além de Porto Alegre, fundaram Mostardas, Taquari, Estreito, Osório, Santo Amaro, Rio Pardo, Gravataí, Santo Antonio da Patrulha. Os primeiros registros de terras concedidas a essas famílias açorianas datam de 1770; e, vejam, só 10% das terras distribuídas nesse período foram dadas aos casais açorianos; os outros 90%, foram concedidas aos grandes sesmeiros de terras, os tataravós dos nossos latifúndiários, que até hoje atormentam o nosso povo.

O Vice-Rei, Conde da Cunha, escrevia, em 1764, a S. Majestade: “Notório que algumas pessoas têm duas, três ou mais sesmarias, e que por essa causa ficou S. Majestade sem ter terras para acomodar os casais”. O latifúndio na hora da partida, o latifúndio na hora da chegada, dificultando a vida desses laboriosos agricultores. Mas não era só isso: na sua labuta, volta e meia, eram recrutados para as fileiras do Exército, para as guerras e os "entreveros" que sacudiam o nosso Estado. A sua produção, muitas vezes, era confiscada para alimentar os soldados. Apesar de tudo isso, criaram muito da riqueza do nosso Estado. Foram os pioneiros na produção do trigo, a ponto de o Rei, já em 1772, providenciar a vinda de pedras de moer para construir os primeiros moinhos de trigo, visando a abastecer o Rio de Janeiro e, quem sabe, um dia, Portugal. Foram os pioneiros na vitivinicultura, na cana-de-açúcar, na tecelagem da lã. Construíram as primeiras atafonas ou azenhas, moinhos para triturar o trigo e outros grãos - movidos por animais ou pela força humana; criaram engenhos de açúcar, moinhos de vento, aqui e em Rio Pardo. É impossível pensar na cultura de Porto Alegre, na cultura gaúcha, sem pensar nos açorianos; pensar na nossa comida, nas nossas vestimentas, nas nossas danças sem eles. Talvez tenhamos herdado algo do heroísmo desses homens e dessas mulheres que, em tão difíceis condições, povoaram o nosso Rio Grande do Sul.

Muito obrigado, povoadores açorianos. Um grande abraço, em nome do PC do B! Muito obrigado.

 

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia): Passamos a palavra ao Ex.mo Sr. Cônsul-Geral de Portugal, Dr. José Lages dos Santos.

 

O SR. JOSÉ LAGES DOS SANTOS: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Como Cônsul de Portugal, é naturalmente com regozijo e a mais viva emoção que participo desta Sessão Solene da Câmara Municipal de Porto Alegre, visando a homenagear os 250 anos do povoamento do Rio Grande do Sul por portugueses oriundos dos Açores.

Às terras da então Capitania de São Pedro foram chegando, sobretudo a partir de 1751, sucessivas levas de casais açorianos. Foram essas gentes de fibra e de coragem indesmentíveis - até por terem ousado arrostar com todos os medos e perigos do desconhecido – que lançariam os primeiros alicerces do povoamento europeu do território.

Como bem reconhece o preâmbulo do Decreto de 30 de novembro de 2001, do Governo do Estado do Rio Grande do Sul e relativo às presentes comemorações, foram esses pioneiros que preparam o território para a vinda de outras correntes imigratórias, contribuindo para a consolidação territorial, administrativa e política do Estado do Rio Grande do Sul. Os primeiros fluxos de casais ilhéus impulsionaram o desenvolvimento da agricultura, principal atividade econômica da época, como bem aqui evocou o Ver. Raul Carrion.

Para além do importante papel difusor da língua portuguesa, o povoamento açoriano marcou de forma indelével a cultura e as tradições gaúchas. Também esses núcleos primordiais de açorianos se ficou a dever a fundação de povoações da maior relevância, tanto no passado como na atualidade do Rio Grande do Sul.

À memória dessa ação precursora dos casais açorianos a pujante cidade de Porto Alegre prestou há mais de duas décadas uma justa homenagem, erigindo o amplamente conhecido e simbólico Monumento aos Açorianos.

Como alguém já referiu, é provável e sobretudo compreensível que aqueles casais açorianos não tenham sonhado que da semente que lançaram ao solo brotaria o esplendor desta Cidade. Mas estas, como tantas outras sementes, frutificaram e são a razão de ser das comemorações que hoje aqui assinalamos.

Nesse contexto, gostaria de evocar a visita feita em janeiro último ao Rio Grande do Sul e também a esta Casa, de uma delegação da Assembléia Legislativa Regional dos Açores. A distinta comitiva de Deputados do arquipélago constituiu um vivo testemunho dos Açores moderno, plural e progressivo dos nossos dias.

Para essa nova dinâmica de desenvolvimento, atento, sobretudo ao longo do último quarto de século, foi crucial o impulso dado pela autonomia regional do arquipélago, que a primeira constituição pós 25 de abril de 1974 consagrou e que constitui um elemento essencial da República Portuguesa moderna e democrática.

No harmonioso mosaico étnico-cultural que caracteriza, prestigia e honra o Rio Grande do Sul, os luso-descendentes dos açorianos que desde 1751 por aqui se fixaram, essa gente de paz - como lhes chamou em uma expressão feliz o destacado escritor gaúcho, Moacyr Scliar, no seu livro Porto de Histórias - souberam manter, a par de uma capacidade de integração exemplar, a nostalgia e o culto saudáveis dos seus valores e tradições ancestrais.

A diáspora açoriana - repartida pelos quatro cantos do mundo, e que aqui no novo continente se iniciou por terra brasileira - tem sabido preservar memórias e raízes e tem boas razões para isso. Berço de gente destemida e empreendedora, os Açores são igualmente a terra natal de inúmeros portugueses que, por mérito próprio, distinguiram-se no campo das Artes, das Ciências e das Letras: Antero de Quental, Teófilo Braga, Victorino Nemésio - como aqui bem invocou o Ver. Marcelo Danéris -, Natália Correia, Aurélio Quintanilha, Antonio da Costa - para citar apenas um punhado dos que já não estão entre nós - são filhos ilustres do arquipélago e exemplo eloqüentes desse alfobre de açorianos que se guindaram a expoentes da cultura lusitana e também universal.

Ao terminar, gostaria de expressar o meu reconhecimento por essa iniciativa da Câmara Municipal em tão boa hora, proposta pelo Ver. Marcelo Danéris, e que foi unanimemente acolhida por toda a Câmara. Esse gesto nobre evidencia que um povo que se orgulha do seu passado e venera suas raízes é não apenas um povo com história e a ela devotada, mas é, sobretudo, um povo que tem bases mais sólidas para poder construir um futuro cada vez melhor. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia): Registramos que o Secretário Municipal de Obras e Viação, Ver. Guilherme Barbosa, tem um compromisso agendado. Por esse motivo, deixará o recinto. Obrigado pela sua presença.

O Dr. Eraci Rocha, Presidente do Comitê de 250 Anos do Povoamento Açoriano, está com a palavra.

 

O SR. ERACI ROCHA: Sr. Presidente em exercício da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, Ex.mo Sr. Cônsul de Portugal, Dr. José Lages dos Santos; em nome dos senhores quero saudar a todos os presentes, aos demais componentes que restaram na Mesa; uma saudação especial a toda comunidade açoriana, ao povo do Rio Grande do Sul. Quero aqui destacar primeiramente a iniciativa do Ver. Marcelo Danéris e a unanimidade da aprovação pelos demais Vereadores desta Casa.

Com certeza não vou falar sobre a história já dissertada tão bem pelo Ver. Raul Carrion, pelo Ver. João Antonio Dib, e por outros, mas quero reafirmar, ratificar a importância desse legado da cultura portuguesa açoriana no Estado.

Vale repetir toda a influência que tem na nossa vida, no dia-a-dia, na nossa economia, na nossa sociedade, enfim, a influência da cultura açoriana. Repetimos, portanto, que através da dança, da música, da culinária, da literatura, diversas formas de manifestações nós temos desse legado açoriano com a importância de uma cultura de raízes mais identificadas que temos neste País, que é o Rio Grande do Sul. Nenhum outro Estado brasileiro tem a consciência de raízes que esse povo gaúcho tem, e com certeza passa pela influência desse legado toda essa consciência.

Por isso, eu gostaria de dizer mais uma vez que nos orgulhamos desse legado que nos faz termos no nosso imaginário, na nossa auto-estima esse orgulho. Esse legado, com certeza, nos leva a nos orgulhar da nossa história. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia): Senhoras e senhores, queremos dizer da alegria que sentimos nesta tarde, por podermos aprender um pouco mais da história da nossa Cidade e do nosso povo. O povo português veio para a nossa Cidade, trazendo o seu trabalho, como alguns disseram: a culinária, a dança, a música, as artes, mas registro também que os açorianos trouxeram a fé. Eu falo isso, porque, no ano passado, tivemos a oportunidade de um Projeto de nossa autoria ter sido votado e, neste ano, vai ser implantado. Quando os açorianos vieram para o nosso País, especificamente aqui em Porto Alegre, a primeira capela católica foi na Praça da Alfândega, e eles trouxeram consigo uma imagem de São Francisco de Chagas, e ali na Praça da Alfândega, neste ano, vai ser colocado um monumento, marcando um referencial para a nossa Cidade que mostra que os açorianos também trouxeram e contribuíram muito para a fé da nossa Cidade. Então, nós gostaríamos também de fazer esse registro.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Rio-Grandense.

 

(Executa-se o Hino Rio-Grandense.)

 

Agradecemos a presença de todos.

Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão.

 

(Encerra-se a Sessão às 16h28min.)

 

* * * * *